Os homens passam mas as instituições ficam.
Esta velha sentença revela a importância que a sociedade atribui a tudo quanto contribui para a sua evolução cultural, sócio-económica e religiosa.
Por isso, não é de ânimo leve que se extinguem organismos e instituições sociais, mesmo que algumas estejam inativas ou a definhar. Nunca é demais relevar: eles fazem parte do património imaterial, são agentes de saber, de cultura, constituem formas de socialização e de afirmação de identidades.
Nos últimos meses um crescente número de alunos das décadas de 50 e de 60 do Seminário de Angra, tem-se agrupado no facebook, divulgando fotografias dos tempos de juventude, reconhecendo colegas que a vida dispersou pela América do Norte, Brasil, Europa e Açores e outros que a lei da morte libertou. Tem sido interessantíssimo rever albuns fotográficos e tantos colegas que viveram e se formaram num edifício dos anos 30, construído no espaço da antiga casa do Barão do Ramalho, à Rua do Palácio, ou iniciaram estudos no Colégio dos Jesuítas em Ponta Delgada.
Todo este movimento coincide com os 150 anos da fundação do Seminário de Angra; criado pelo Bispo D. Frei Estevão de Jesus Maria, funcionou, inicialmente, no antigo convento de São Francisco de Angra onde repartiu instalações com o Liceu daquela cidade.
Conheci ainda sacerdotes e pessoas que ali estudaram em períodos políticos conturbados da primeira república que retirou o edifício à Igreja, interrompendo o funcionamento da única escola dos Açores com ensino pós-secundário.
Durante décadas, milhares de jovens de todas as ilhas rumaram a Angra para frequentar o Seminário, cujo escol de professores tinha reconhecida competência, pois haviam sido formados em grandes universidades europeias.
A maioria dos rapazes ficava pelo caminho, à medida que avançavam nos cursos de Filosofia e Teologia, alegando não ter vocação para o sacerdócio.
No entanto, a qualidade da formação pessoal - cultural e religiosa – desde a mais tenra idade, era moldada segundo valores e disciplina que marcaram, pela vida fora, as sua opções religiosas, sociais, profissionais e políticas. E se a hierarquia católica tivesse encarado de outro modo a questão do celibato e do casamento do clero, na sequência da abertura proporcionada por muitos padres conciliares, mais jovens teriam sido ordenados. Mas este é apenas um àparte.
Quem passou pelo Seminário de Angra nas décadas de 50 e de 60, ficou marcado pela abertura à cultura, à sociedade, à modernidade, e por novas ideias sociais, políticas e religiosas veiculadas por docentes formados em Itália, na Alemanha, na Bélgica ou em França. Essa lufada de ar fresco, que alguns mais conservadores criticavam, manifestou-se também em fortes polémicas mantidas nos dois jornais angrenses por figuras prestigiadas, ou em sermões e palestras radiodifundidas e de grande audiência.
O pensamento novo e moderno que fazia escola no Seminário e daí irradiava para a sociedade, teve também expressão muito forte no Instituto Açoriano de Cultura – IAC. Foi esta a entidade promotora das Semanas de Estudo que decorreram nas três capitais dos ex-distritos, com o objetivo de « mais saber para melhor viver. »
Esse dinamismo « tocou », profundamente, uma numerosa geração de jovens naturais de todas as ilhas que nos anos 50 e 60 frequentaram « a santa casa mimosa de Deus », segundo canta o hino do Seminário e que, nas suas atividades pessoais e profissionaios, muito contribuiram para o desenvolvimento social.
Para recordar essa decisiva etapa de suas vidas, está a ser organizado um encontro de antigos alunos, com mais de 60 anos, que decorrerá nos dias 6, 7 e 8 de Julho em Angra.
Será tempo muito curto para tantas memórias e saudades que perduram e que originaram uma outra forma de encarar a vida e o mundo.
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